quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Na cozinha.


Acendeu um cigarro e colocou uma xícara de café. A cada gole dava dois tragos. O calcanhar batia acelerado no chão, o cotovelo esquerdo na mesa e a mão agarrando a testa, típico de quem tá impaciente. Observava a mesa ainda por limpar como se tentasse apagar os próprios pensamentos. Sabia que estava apaixonada, talvez até arriscasse afirmar que o amava caso soubesse o que é o amor. Mas estava com M. já fazia algum tempo, embora por ele não sentisse a mesma coisa, eles já possuíam algum tipo de história, além de que ele tinha um emprego, uma perspectiva futura mais ampla. Enquanto o outro, que lhe roubava os pensamentos e a quietude naquele instante, não tinha a mesma coisa, só os elogios e o jeito carinhoso de olhar pra ela, de fazê-la especial nos instantes mínimos. Por que o amor erra? Era o que ela se perguntava.

- Acho que estou apaixonada por outro rapaz, mãe. – revelou.
- É mesmo, filha? – respondeu como se não soubesse.
- Eu acho que o amo... mas não tenho certeza se isso é o suficiente...
- Só o amor às vezes não é o suficiente.
- Mas isso não deveria ser o ideal de todo ser humano? O sentimento mais nobre? A razão primordial de toda e qualquer relação? – gritou em desespero.
- Existem várias razões pra se manter uma relação, filha. Amor? Talvez seja a menor delas. – com um olhar vago, respondeu a mãe ao lavar os pratos.

(Imagem: René Magritte - Os Amantes)

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