Para Henry Chinaski
O poeta está sentado. Ele está velho. Ele sentou-se para escrever. Ele fez isso a vida inteira, simplesmente porque precisava. Ele abre a gaveta cheia de papéis, contas de luz a pagar, poemas, e ele pensa que enfim, está velho. Se levanta e caminha com dificuldade até a janela. Da janela ele paga um menino pra ir ao bar trazer um litro de qualquer coisa. "Poesia?", pensa ele, "Vida". O menino trouxe a garrafa de aguardente embrulhada em papel de mercearia.
Torna a sentar. Bebe um gole. Abre a gaveta de papéis, alguns estão amarelados. Pega um para ler: "SE MORRER, NESSA VIDA, NÃO É NOVO/TAMBÉM POUCO HÁ DE NOVIDADE EM ESTAR VIVO" . As velhas duas últimas quadras de lessiênim. "Maiakósvki também se suicidou..." Automaticamente a mão desliza até o copo. Toma outro trago. Atualmente quando ele escrevia, sua letra ficava indecifrável. Antes ele passava horas refazendo tudo na máquina. Mas agora isso já não tinha a mesma importância. Ele vendera a máquina num sebo. "Que sirva a outro mau poeta!" Quilos de papel se acumulavam pela casa preenchidos em alguma língua estranha. "Talvez eu me torne objeto de estudo de algum arqueólogo", sorriu para si mesmo. O relógio marcava meio-dia e ele estava completamente bêbado.
Foi quando o menino chegou com a segunda garrafa. Havia alguma coisa naquela desordem que ele amava. "Assim se parece mais comigo e eu me pareço mais com o mundo", dizia. O suor escorrendo em gotas formando uma imensa mancha debaixo dos braços. "Como deverá ser a morte de um poeta?". A essa altura seus pensamentos iam ficando meio desconexos. "Igualzinha a de qualquer outro fdp em qualquer outra parte desse lado do inferno. Triste, fulminante, mal-cheirosa.'É bom que seja assim" . Sorriu. Do lado de fora o sol despejava sua cota diária de luz. Lentamente, o dia ia se arrastando.
JM Laurus
(texto publicado no zine 'Papai, estamos vivos!' de Natal/RN, em um edição lançada logo após a morte de Charles Bukowski).
Torna a sentar. Bebe um gole. Abre a gaveta de papéis, alguns estão amarelados. Pega um para ler: "SE MORRER, NESSA VIDA, NÃO É NOVO/TAMBÉM POUCO HÁ DE NOVIDADE EM ESTAR VIVO" . As velhas duas últimas quadras de lessiênim. "Maiakósvki também se suicidou..." Automaticamente a mão desliza até o copo. Toma outro trago. Atualmente quando ele escrevia, sua letra ficava indecifrável. Antes ele passava horas refazendo tudo na máquina. Mas agora isso já não tinha a mesma importância. Ele vendera a máquina num sebo. "Que sirva a outro mau poeta!" Quilos de papel se acumulavam pela casa preenchidos em alguma língua estranha. "Talvez eu me torne objeto de estudo de algum arqueólogo", sorriu para si mesmo. O relógio marcava meio-dia e ele estava completamente bêbado.
Foi quando o menino chegou com a segunda garrafa. Havia alguma coisa naquela desordem que ele amava. "Assim se parece mais comigo e eu me pareço mais com o mundo", dizia. O suor escorrendo em gotas formando uma imensa mancha debaixo dos braços. "Como deverá ser a morte de um poeta?". A essa altura seus pensamentos iam ficando meio desconexos. "Igualzinha a de qualquer outro fdp em qualquer outra parte desse lado do inferno. Triste, fulminante, mal-cheirosa.'É bom que seja assim" . Sorriu. Do lado de fora o sol despejava sua cota diária de luz. Lentamente, o dia ia se arrastando.
JM Laurus
(texto publicado no zine 'Papai, estamos vivos!' de Natal/RN, em um edição lançada logo após a morte de Charles Bukowski).